sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Nenhuma palavra

E eu caminhei nessa mesma estrada escura por diversas vezes perseguida por nós mesmos. Cacei o canto memorável onde esqueci minha lanterna aquela tarde... Aquela tarde... Com o vento balançando levemente seus cabelos, olhos apertados e realçados pela beleza que o rondava, a beleza exaltada, a beleza exata acalentada e escondida em um coração tão puro quanto a água que me lava. Um coração vazio.
Suas poucas palavras me tocavam como a leve sinfonia de uma canção, nota por nota, cada batida acompanhada e absorvida com a tensão de como se fosse nossa última despedida; o último tocar em suas mãos, o último abraço apertado... Voltei a ser a criança em seus braços. Nenhuma palavra... São simplesmente palavras que não adquirem significado algum se as ações não fizerem jus a elas.
"Apenas deixe sua lanterna aí, não necessitaremos dela, a noite cairá sobre nós...é tudo o que preciso".
E eu caminhei pela estrada banhada por nós mesmos em silêncio. O silêncio agudo de um gesto, o silêncio corrosivo do som do silêncio. Busquei a mesma cena, enquanto estava a procura da lanterna, tentei lembrar dos nossos sorrisos, do sol se pondo na direção oposta, da sua mão em minha face... Sua boca em meu ombro, procurei o nosso silêncio.
Senti medo... O medo de não conseguir mais sentir o mesmo daquela tarde, medo de esquecer suas expressões faciais que gosto tanto, sua voz... Medo de te esquecer, mesmo sendo necessário. Medo de encontrar o silêncio sozinha.
Como o veludo da manta de areia que cobre o chão onde, agora, afundo meus pés. Olhar para os outros e ver a si mesmo, há um pouco de nós em cada um deles. Sem volta, os erros são o que nos mantém seguindo e o sofrimento nos faz ver que ainda estamos vivos.
Como o tocar na solidão do vazio. Achei a lanterna e com os olhos tremidos, a liguei e segui.